sexta-feira, 8 de maio de 2009

A Estrada

Existe uma estrada cheia de buracos - enlameada, escorregadia e com partes faltando. Uma pessoa, completamente sozinha, começa a escalá-la. É difícil, leva muito tempo e a pessoa não tem ajuda alguma. Toda hora, cai, machuca-se, mas continua subindo, continua insistindo. Em certo ponto, suas forças acabam. Ainda assim, vai em frente.
Finalmente, encontra um pedaço livre e bonito; quase sem obstáculos. Dá-se esperanças e segue em frente. Tudo é tão lindo; parece que os inúmeros obstáculos ficaram para trás. De repente, encantada pela paisagem, a pessoa não consegue enxergar um pé esticado no meio do caminho.
Caída, rola estrada abaixo, sabendo que foi proposital, sabendo que precisará recomeçar tudo outra vez. E recomeça.
Sempre naquele mesmo ponto, depois do alívio de esquecer toda a dor, vê-se empurrada novamente. É proposital; podem-se ouvir as risadas.
As forças terminam e a pessoa desiste. Sabe que não há outro caminho, que não há ninguém, exceto obstáculos invisíveis que vão derrubá-la hora após horas. Ela é invisível
Alucinações

Você não se importa se eu meter o meu pau em você, não é? Oh, por favor, mais fundo! Você é uma garotinha má. Garotinha precoce. Garotinha. Você só faz as pessoas sofrerem. Oh, meu deus, que gostoso! Se quiser destruir a sua vida, destrua apenas a sua.
Sangue, tanto sangue. Um pouquinho mais. Assim, desse jeito. Huum. Apenas uma carreira, não tem problema. Por favor, não!
Nada. Você nunca será nada. Bom dia, que bom que você acordou. Porra! Aqui somos todos iguais. Malditas aberrações. Isso, esforce-se um pouco mais. Sempre mais. Eles não podem ajudá-la. Mas tudo vai passar. Haha, tudo sempre passa. Não é?
Vendida. Suja. Usada. Não me deixa aqui, porra! Só mais uma dose. Uma dose; desmaiada. Desmaiada; desconhecido. Alheia. É a minha vez. Por favor, fique de quatro. Pode ficar com o troco. Você sempre será sozinha. Sozinha, de mão em mão. Você não sou eu - não farei isso. Estou mandando. Ah, ah, aaaaah! Saída de emergência. Só mais uma pípula. Só um pouco mais. Nunca o bastante.
Você é forte. Forte. Se eu sou forte, você pode ser fraco. Desculpa perfeita. Compulsão, amordaçada. Não se preocupe, não vou chorar. Guardarei em meu âmago toda a sua podridão. Ninguém vai descobrir. Eu encubro todas as falhas. Posso experimentar essa saia? Chame-me de papai. Papai. Vinte olhares para mim. Gostosa!
Não me deixe. Cordão umbilical. Confiança partida. Caco de vidro. Não se pode confiar em ninguém. Mate-os, mate-os. Vamos sugar a vida que sugaram de você. Dor; complacência. Papai! Ora, vamos, você dá conta. Cuida dela, sim? Não, por favor, não vá embora. Quer um? Não vai fazer mal. Garotas...
Sou perfeita, não sou? Olhe, mas não toque. Deus, não agüento! Só mais um remédio. Único gole. Autocontrole. Quer se juntar a mim? Eu prometo, juro. Para sempre. Acredito em você.
Estúpida! Vou esperá-la. Conte comigo. Morta, estou morta.
Não posso mais cuidar dela. Cuide-se sozinha. Psicopata. Cega. Sou doente, não sou? Vamos resolver tudo. Sim, sim, sim. Vendemos-nos e matamos todos. Com dor, muita dor. Quero ver a dor. Ver!
Bobagem de adolescente. Criança precoce. Precoce significa sozinha? Cruel, malévola. Sim, eu sei. Oh, por favor, há sangue demais.
Doida. Harãm. O gosto de pele, o gosto da dor. Prazer. Levem-me daqui. Assim, mais para cima. Me fode. Não acredito. Criança má. Fundimos-nos. Você se foi. Está na hora. Tudo vai passar.
"Cega Obsessão"
Palpável, tocante, sensacional do começo ao fim. O filme mostra - e diz - exatamente como é a obsessão, compulsão, angústia e a culpa. Não é um filme para ser visto, mas para ser tocado, tateado, explorado. O fundo do poço é sempre mais embaixo, a dor nunca é suficiente e, quanto mais se sofre, mais se quer sofrer. Cada novo passo, caminho sem volta; sensações perdidas para sempre. O preço jamais é alto demais e nunca, nunca para.
Dor prazerosa, dor alucinante, angústia incurável. O nervoso precisa passar. Se a pele coça, deve ser coçada. Se doer, precisa doer mais. Se o limite não se estende mais, é sempre possível dar-se um jeito. Sempre há mais a ser sentido. E sentir com a alma não é suficiente, é muito pouco; nada. Não alivia, fica-se apático. Cortar-se para ver-se vivo; sangrar para conseguir sentir que ainda há algo lá dentro. Algo que precisa ser posto para fora. Urgentemente.
Para habituar-se, fica-se cego de tudo, surdo, mudo, imóvel. Apenas sentir. Apenas sentir importa. Mas não há muito para ser sentido, a culpa é sempre maior de tudo, a culpa invade tudo e o tudo precisa invadir a culpa. E, se há culpa, a dor jamais será suficiente. Quando se aprende a sentir - sentir de verdade - nada jamais será a mesma coisa.

OBS: crítica/sinopse do filme japonês, Cega Obsessão.
Contradições

Às vezes me escondo tanto que chego a me proteger de mim mesma e deixo de sobreviver. Não consigo decidir-me se posso ou não me doar. Estou fugindo o tempo todo - cansa , me esgota; acaba com todas as minhas forças.
Sou tão contraditória, mal posso suportar-me. Quero fugir, mas quero que alguém me enxergue de verdade. Quero sofrer até não agüentar mais, mas quero ser feliz. Quero tanto, tanto, tanto...
"Você sempre fará os outros sofrerem." A verdade é que nunca quis machucar alguém, o que fizeram foi machucar-me. A melhor lição que aprendi na vida é que esperança é o pior sentimento que se pode ter. Você acredita e acredita de novo, de novo; uma vez mais. Decepção: todos indo embora.
Gostar de alguém me deixa em pânico.
Quanto mais dou, mais perco. Aliás, eu nem sei se ainda há algo a dar. As únicas coisas que sei: ninguém é confiável; mostrar-se vulnerável é a coisa mais estúpida a se fazer; palavras são apenas palavras. Promessas não passam de promessas. Sempre existe uma sobremesa mais gostosa, sempre existe alguém mais importante.
Meu maior erro: esperar dos outras atitudes que eu teria. Isto não ocorre. E, se não ocorre, como posso deixar alguém chegar perto? Não tenho problemas em me doar e, sim, posso cobrar demais, mas tudo me parece tão errado. E ao mesmo tempo em que tudo que quero é respirar, me prendo cada vez mais. Desejo algo e, se o consigo, incapaz sou de mantê-lo.
A fita se rebobina. Com demônios não se brinca – é o passado voltando. E sou incapaz de enfrenta-lo uma vez mais.
Não se perca ao entrar no meu
Folha em branco, um eu mais real. Não que isso seja exatamente bom ou ruim; creio que me faltará tempo e, por fim, decidi deixar algumas marcas. Não digo que falarei por mim mesma, que minhas personalidades múltiplas não irão invadir este espaço; porém, inclusive por meio de outras pessoas, desvendar-me-ei aos pouquinhos. A morte pode ser lenta e existem incontáveis modos de morrer. Muitas coisas na depressão podem se assemelhar ao câncer, uma delas é que, às vezes, a pessoa parece estar melhorando, parece bem. Então ela morre. Falo de fatos e as pessoas se chocam, dizem que sentem muito. Mas e daí? É muito triste, não é? Mas e daí, quem se importa? Por isso vou procurar falar apenas de sentimentos, os fatos que se fodam.
Infinito particular!
Intensidade

Vender-me, por que não? Outro meio que ir morrendo aos poucos. E, de tanto morrer, já não sei fazer mais nada. Incapaz de sentir qualquer coisa; congelada. Bonequinha. Destruída.
Queimar-me, por que não? Sei que, por mais que eu possa fazer, o fim é único. E que, mesmo presa, muda e sem ar, sempre foi assim. O ciclo continua. E o risco é alto demais. Voltar não é uma opção. Ficar não é uma opção.
Obsessão, compulsão. Dominada, perdida entre máscaras. Ser não é o bastante. E ser me enoja. Ser é espécie. E a espécie me deixa doente.
É necessário ser forte? Por quanto tempo mais? O sangue é um motivo. O motivo, insuficiente. O sadismo é maior. Sofrer, imaginar, elaborar. Ver a dor e senti-la. É necessário sentir-me viva. No meio do tédio, extremos salvam.
Por anos, não saí da casca. E estava segura. Decepções. Preciso me camuflar; planejar. E planejar é difícil se não há esperança. Viver é difícil se nada mais é possível.
Apenas extremos. Fingimento puro. Menina má. Consciente, ainda que inconsciente. Divagando...
Tédio. O tédio me consome, o ódio me domina, a dor me mata, os extremos me salvam. E me perco em mim. São tantas pessoas em uma só. Perco-me e não sei quem sou.
Boa, má. Tarada, fiel. Bonita, feia. Inteligente, burra. Limpa, suja. Conflitos. Mas sei, eu sei que lado vai ganhar. Ainda que eu me perca, ainda que não consiga mais um raciocínio lógico. Porque, oras, há tanto a dizer. Viu?
Mesmo em dúvidas, mesmo coberta de incertezas, não há saídas. E me canso de mim mesma.
Às vezes, minha intensidade é demais. Às vezes, canso-me de falar tanto e não ter nada a dizer. Só queria descansar. Uma vez na vida, não precisar ser forte. Uma vez na vida, ser um pouco menos eu.
É fácil me analisar. Digo fatos, não sentimentos. Não se pode ferir o desconhecido. E, se eu não tivesse saído da casca, não estaria tão machucada. Agora, o que tenho a perder? Tudo que aprendi não vale mais.
Valores, princípios, sonhos. Tudo se perdeu em mim mesma e a apatia toma conta dos pedaços. O vazio toma conta dos buracos que ficaram. Os buracos impossíveis de colar. E, mesmo colando, seria apenas mais uma mentira. Porque sou uma mentirosa compulsiva. Uma farsa. Uma vida. Vida que, mesmo com batimentos sôfregos, já está esgotada.
Pedaços Partidos

O sorriso quando me rasgaste em pedaços. Falsos "eu te amo" por trás de mentiras, todo o drama; todas as certezas. Toda a culpa. E eu me mostrei inteira; desnudei por completo meu corpo, minha alma.
Entreguei meu coração e fui cega. Eu devia saber. Devia saber; na verdade, sempre soube. Sempre lutei contra e, completamente frágil, fui um alvo fácil. Mais um alvo fácil, que grande coleção! Corações trancafiados no armário, cadáveres apodrecendo, mentes destruídas, cérebros dissecados. Machucar para não ser machucada. Por que me desaponto? É simplesmente o habitual egoísmo humano. Por que seria diferente? Falta caráter, falta tudo...
E, o pior de tudo, é saber que, como sempre, a culpa cai em cima de mim e me devora. Viva. Viva? Desde o começo deste jogo - porque foi um jogo - eu sabia - deveria saber, que jamais dá para baixar a guarda; "Se defender sempre".
Agora é tarde demais, dei tudo que eu tinha e perdi qualquer resquício de esperança. Continuar sobrevivendo... Sobrevivendo vazia, sobrevivendo apesar por ver o sangue que não para de correr. O sangue é a única coisa que restou. A única que me deixa sentir-me viva.