sexta-feira, 8 de maio de 2009

Depressão invisível

Que não me joguem pedras, mas a depressão é a pior doença do mundo. Não se pode tocar, não se pode sentir nem cheirar. Só está lá, enlouquecendo e se fazendo presente o tempo inteiro. Não tem remédio, não tem desgraça pior. É a doença dos amaldiçoados e incompreensíveis. Insanidade, fundo do poço.
Se fosse uma gripe, seria normal não ter vontade de sair da cama e ninguém acharia que é preguiça. Se fosse uma doença mortal, não seria problema querer morrer logo; definhar seria tocável e visível. Se fosse qualquer coisa que explicasse as lágrimas constantes, a apatia que toma conta. Se fosse uma tragédia, algo que explicasse a incapacidade que dar amor, carinho, de fazer qualquer coisa. Se fossem as pernas amputadas e se houvesse um motivo para ter pânico de sair de casa e das pessoas. Qualquer coisa palpável, qualquer coisa que pudessem compreender.
Não se deseja morrer quando se tem tudo, não se pode desistir se alguém depende de você, há sempre tragédias piores e sempre, sempre, alguém vai abrir a janela e mostrar como o mundo é lindo lá fora. Mas os olhos são vendados e é tudo escuro, ouve-se mal e as pernas não conseguem se mexer; o corpo está exausto e o cérebro nem se lembra mais como funcionar. Procuram-se motivos para o desespero e, no final, é sempre culpa da maldita serotonina.
Quando uma porta se abre duas se fecham, tudo que desce, cai; menos na depressão. Na depressão, não há saída por mais que se procure, a luz no fim do túnel é inalcançável e o fundo do poço é sempre mais embaixo.

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